Como é a formação de um especialista no tratamento da dor?

Como é a formação de um especialista no tratamento da dor?

como-e-a-formacao-de-um-especialista-no-tratamento-da-dor
Publicado em 29/ago/20

A medicina da dor é uma especialidade relativamente recente, foi oficializada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2011. Desde então, os médicos estão se dedicando à investigação, tratamento e inovação no tratamento da dor. A formação do especialista no tratamento da dor é o primeiro passo para um acompanhamento eficiente. 

Ouça este conteúdo:

Mas a formação não para na especialização, já que é possível, e indicado, associar cursos complementares, com diferentes experiências e técnicas, para promover o alívio da dor crônica e o bem-estar aos pacientes. 

Confira a entrevista concedida pela Dra. Paula Benedetti, médica especialista em dor, de Blumenau em Santa Catarina. A seguir, ela conta como começou a atuar na área e o que considera como diferencial para tratar os pacientes com dor crônica. Confira!

1. Você se formou em medicina, fez residência em anestesiologia, emendou uma pós-graduação em dor crônica e, em seguida, fez um curso de intervenção em dor. Por que escolheu atuar nessa área?

“Sempre quis ser médica. No início da faculdade, me interessei pela clínica, mas também gostei muito dos procedimentos. Então, escolhi a anestesiologia por unir esses dois conhecimentos.

Porém, durante a residência pude acompanhar o trabalho dos especialistas em dor. Passei a pesquisar sobre o tema e, quanto mais eu estudava, mais o interesse aumentava. Afinal, é muito gratificante tirar a dor de uma pessoa.” 

2. O que você considera como um diferencial na sua formação?

“Certamente, o curso de intervenção em dor. Ele me permite ir além do tratamento medicamentoso e da fisioterapia. Não que isso não resolva, mas acontece que, às vezes, o paciente está tão debilitado que são necessários outros procedimentos, como os bloqueios, para que ele melhore.

Aliás, é importante ressaltar que os bloqueios não viciam nem geram dependência — muitos pacientes me perguntam isso. Pelo contrário, eles objetivam reduzir a necessidade de medicamentos para diminuir a dor.

Além disso, para dar ainda mais segurança aos pacientes eu faço os bloqueios orientados por ultrassonografia. Isso me permite enxergar o ponto preciso para injetar a medicação. Dessa forma, minimiza o risco de atingir outras áreas.”

3. O que foi preciso aprender para atuar nessa especialidade?

“O aprendizado é contínuo, pois a medicina evolui muito rápido. Os médicos precisam estudar e se atualizar constantemente.

Até agora, um dos maiores desafios foi estudar as diversas doenças que podem gerar dores crônicas e como abordá-las. Por mais que os livros digam ‘faça isso, faça aquilo’, não é simples assim.

Não existe uma receita de bolo, um tratamento que sirva para todo mundo e ao qual todos respondam bem. O maior desafio é individualizar o tratamento para a dor. Cada pessoa sente sua dor de forma única e responde ao tratamento também de forma única.

Além disso, também aprendi que é muito importante mostrar para o paciente que ele está sendo ouvido. É essencial que ele se sinta acolhido.”

4. Como é a sua consulta inicial?

“Geralmente, o paciente que chega ao especialista em dor já passou por vários outros médicos. Por isso, para a primeira consulta, peço que traga seu histórico clínico: exames anteriores, prescrições, medicamentos já tomados ou de uso habitual, etc.

Ao revisar o passado, tenho um norte. E se houver necessidade, solicito novos exames.

Outro ponto importante é que, no início, as consultas são mais regulares. Mas a partir do momento em que a dor está controlada, os pacientes ficam livres para retornar quando acharem necessário. Muitas vezes, eles retornam apenas para conversar. Neste aspecto, um importante papel do especialista em dor é ouvir seu paciente”

5. Em que aspecto a abordagem do médico especialista em dor se difere da dos demais médicos?

“O especialista em dor tem uma percepção integral do paciente, principalmente, em relação ao tratamento não cirúrgico. Eu enxergo o tratamento da dor como uma orquestra: os músicos são os demais profissionais envolvidos, mas o maestro é o especialista em dor. Ele coordena o tratamento — mas não suprime, de forma alguma, os demais especialistas.”

6. Tratar a dor é cuidar da qualidade de vida dos pacientes?

“Com certeza! Quem tem dor tem baixa qualidade de vida. A pessoa não dorme direito, fica irritada, não consegue executar as tarefas normalmente, tem que se privar das coisas que gostaria de fazer e por aí vai. E a dor, nesse cenário, só piora.

Muitas das dores crônicas não têm cura, mas quanto mais o paciente estiver engajado no seu tratamento, melhor será sua qualidade de vida.

Afinal, a dor interfere em todos os aspectos da vida, do trabalho às relações pessoais. Suas consequências provocam desgastes em quem a sente.

7. Qual é a sua parte favorita do dia a dia da profissão?

“Gosto quando faço os procedimentos (bloqueios e infiltrações), porque a resposta é imediata. A dor melhora na hora! E isso gera uma satisfação muito grande por ver o bem-estar nos pacientes.

Quando se trata de pacientes muito ansiosos, às vezes, é preciso sedá-los antes de fazer os bloqueios. Nesses casos, aciono colegas anestesiologistas e faço o procedimento em um centro cirúrgico.”

8. Qual é o papel do paciente no tratamento da dor?

“O paciente é parte fundamental do tratamento. Seu comprometimento tem relação direta com a diminuição da dor e melhora da qualidade de vida. Por isso, além de tomar as medicações adequadamente, ele precisa mudar o estilo de vida.

Muitas vezes, deve fazer atividades físicas e/ou fisioterapia; psicoterapia para aprender a lidar com as emoções e entender como elas interferem na sua dor; reeducação alimentar, não necessariamente para emagrecer, mas para aprender a comer de forma saudável, etc. Tudo isso contribui para o tratamento da dor!”

Gostou da entrevista? Então, siga a Dra. Paula Benedetti no Facebook e no Instagram e confira seus vídeos e dicas de saúde!

Material escrito por: Dra. Paula Benedetti

Anestesiologista especialista em Dor. Formada em medicina pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Realizou sua residência médica em anestesiologia na Fundação Universitária de Cardiologia (IcFUC) e no Centro de treinamento SANE/SBA, em Porto Alegre(RS). Seus estudos focados no tratamento da dor foram realizados com os cursos de pós-graduação em dor crônica, no Hospital Israelita Albert Einstein, e no Curso de Intervenção em Dor na Singular- Centro de controle da dor.

Artigos relacionados