As plantas do gênero Cannabis contém dois princípios ativos que vêm sendo estudados para o futuro uso em medicamentos: o THC (tetrahidrocanabidiol) e o canabidiol (CBD). A partir deles, estudiosos têm criado substâncias sintéticas mais puras, cujos efeitos psicoativos são atenuados sem detrimento dos benefícios terapêuticos. Entre suas possíveis indicações, destaca-se o tratamento das dores — como as associadas à fibromialgia.
Neste artigo, mostramos o que as pesquisas indicam em relação ao uso de canabinoides para a dor crônica. Continue a leitura e descubra!
Quando medicamentos à base de canabinoides são indicados?
Medicamentos à base de canabinoides podem ser indicados como parte da estratégia farmacológica usada em tratamentos de dores neuropáticas crônicas. Isso porque, seu potencial analgésico serve para aliviar sintomas ligados a doenças do sistema nervoso central.
Por exemplo: os benefícios em relação à dor, rigidez muscular, ansiedade, transtornos de humor e dor de cabeça associados à fibromialgia já foram comprovados. Além disso, também há relatos de melhoras consideráveis na qualidade de vida de pacientes com esclerose múltipla, dor oncológica e dor em lesão medular.
Mas atenção: os medicamentos à base de canabinoides possuem composição, dose e estabilidade conhecidas — o que não ocorre nos cigarros de maconha. Assim, para administrar os canabinoides para a dor crônica, há produtos orais (geralmente, sob a forma de sprays, óleos ou cápsulas).
Esses medicamentos compõem a terceira linha de tratamento, indicada para pacientes com dores neuropáticas severas e que apresentam baixas respostas às abordagens convencionais. Ficam atrás dos gabapentinoides, dos antidepressivos tricíclicos e dos inibidores seletivos de recaptação (geralmente, usados como primeira linha) e dos analgésicos opioides (mais usados como segunda linha).
No Brasil esses medicamentos são permitidos, mas com cautela. A prescrição dos medicamentos a base de canabinoides tem uma receita especial, e o médico responsável deve preencher um formulário. Os principais obstáculos estão no acesso ao medicamento (pois o cultivo local é proibido no Brasil) e o seu custo.
Como os canabinoides agem no organismo com dor crônica?
Como dito, os medicamentos sintetizados em laboratório diferem da erva in natura, a qual tem composição e potencial analgésico variados. Assim, os canabinoides para dor crônica agem no organismo proporcionando:
- analgesia, relaxamento muscular e melhora da tolerância à dor;
- estímulo do apetite em pacientes inapetentes;
- efeitos ansiolíticos e melhora do humor; entre outros benefícios.
Em países nos quais o uso medicinal é liberado (Uruguai e Canadá), os canabioides são vistos como uma ferramenta de autogestão da dor. Os pacientes com dor crônica que usam a substância apresentam, em média, uma redução de 30% nas escalas de dor.
Existem contraindicações para o uso desses medicamentos?
Os canabinoides são contraindicados para gestantes e lactantes, bem como adolescentes (fase em que o sistema nervoso está mais susceptível à dependência). Também não devem ser usados por pessoas que trabalhem com máquinas ou motoristas. E nem por pacientes com doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares.
O principal risco mencionado nos estudos sobre medicamentos canabioides é o de desenvolver dependência após o consumo contínuo (as taxas de dependência são de 9%). Por isso, antes de prescrevê-lo, o especialista deve investigar o histórico do paciente em relação ao abuso de substâncias químicas, inclusive etilistas e tabagistas.
Outros possíveis problemas associados são boca seca, tontura e distúrbios psicológicos e neurovegetativos (um tipo de transtorno de somatização). Entre os pesquisadores, também existe o receio que o uso de substâncias à base de Cannabis possa provocar:
- efeitos desagradáveis, com aumento da ansiedade;
- reações mais lentas e sonolência durante o dia;
- alterações cognitivas (fala alterada, por exemplo);
- aumento da distração e perdas de memórias de curto prazo;
- vasoconstrição e taquicardia etc.
Em todo caso, quando indicados esses medicamentos devem compor o arsenal terapêutico — e não serem os únicos usados nos tratamentos. No entanto, ainda não existem padronizações de doses e formulações, as quais variam conforme a patologia a ser tratada e o estado clínico do paciente. Assim, a prescrição de canabioides para dor crônica — somente como medicação complementar — deverá ser feita apenas por médicos especializados no uso da substância. Trata-se de uma terapia que parece ser promissora, servindo as pessoas com dores crônicas intensas assim como já serve para quem tem epilepsia!
Achou o artigo interessante? Caso deseje conhecer as novidades em tratamentos para a dor ou tirar dúvidas, entre em contato com a Dra. Paula Benedetti!