Quando sentir dor não é normal?

Quando sentir dor não é normal?

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Publicado em 20/maio/20

De vez em quando, é normal sentir dor. Inúmeras situações do dia a dia podem levar ao incômodo. O que não é normal é sentir um desconforto prolongado, que perdura ao longo de meses e impacta, negativamente, na qualidade de vida. Ao mesmo tempo, adotar medidas aparentemente inofensivas, como o uso indiscriminado de remédios para dor, não apenas não resolve o problema, como pode agravar o quadro.

Neste artigo, a Dra. Paula Benedetti, médica anestesiologista e especialista no tratamento da dor, em Blumenau, SC, mostra de que maneira essa situação deve ser contornada. Para saber mais, continue a leitura!

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Quais são os tipos de dor?

“A dor nada mais é do que uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano presente ou potencial”, explica a Dra. Paula. Sendo assim, cedo ou tarde ela aparece na vida de todos, variando conforme 4 critérios:

  • localização;
  • tipo (difusa ou concentrada);
  • intensidade (fraca, moderada ou forte) e
  • periodicidade (aguda ou crônica).

Basicamente, existem dois tipos de dor: aguda e crônica. A dor aguda pode ser provocada, por exemplo, por alguma lesão, infecção ou inflamação, bem como surgir no período pós-operatório. Nesses casos, o incômodo dura de instantes a semanas, não ultrapassando 30 dias.

Já a dor crônica é considerada uma doença. Prolongada, ela se estende por meses ou, até mesmo, anos.

Também existem as dores psicogênicas, relacionadas a problemas emocionais — sem causas aparentes. Elas se manifestam sob a forma de enxaqueca, dores estomacais e contraturas musculares, etc.

Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), as dores mais recorrentes no Brasil aparecem:

  • nos membros superiores;
  • na região lombar;
  • na cabeça;
  • nos membros inferiores;
  • no tórax;
  • na face;
  • nos membros superiores e inferiores, ao mesmo tempo;
  • em áreas difusas;
  • na região cervical.

Quando sentir dor deve ser motivo de preocupação?

Independentemente da resiliência individual, ou seja, da forma como cada pessoa lida com o incômodo, a dor que não passa é sempre motivo de preocupação. Apesar de difícil de diagnosticar, ela deve ser investigada e adequadamente tratada.

Do contrário, leva à insônia, falta de apetite, ansiedade, irritabilidade, diminuição da libido, sudorese, taquicardia, entre outros problemas ainda mais graves. Ou seja, interfere de maneira negativa nas atividades diárias. Por essas e outras, o alívio e o cuidado integral da dor é uma necessidade.

Por que o diagnóstico precoce da dor é importante?

O diagnóstico precoce é importante para evitar o agravamento do problema. Você sabia que uma dor aguda não tratada pode se transformar em uma dor crônica? E essa, além do sofrimento físico e dos prejuízos à qualidade de vida, leva à inaptidão ao trabalho e uma série de problemas psicossociais.

Por isso, nem pense em adiar a procura por um especialista e aliviar os sintomas conforme aparecem, com o uso indiscriminado de analgésicos ou anti-inflamatórios. Muitas vezes, esse tipo de atitude faz com que uma simples indisposição se transforme em uma dor crônica.

O consumo dos chamados remédios para dor (aqueles disponíveis nas gôndolas das farmácias, ao alcance de todos) pode agravar o gatilho original, bem como desencadear problemas estomacais, renais e hepáticos. Isso sem falar que pode mascarar sintomas de outras doenças.

É preciso ter em mente que essas medicações são paliativas, ou seja, não tratam as causas. Além disso, seu uso prolongado faz com que a eficácia diminua, iniciando um círculo vicioso, no qual o indivíduo ingere quantidades cada vez maiores, aumentando, consequentemente, o risco de desencadear outros problemas.

Qual é o papel do médico especialista em dor?

A abordagem de um especialista vai além da prescrição de remédios. Ele investiga as origens do problema e considera, ainda, a subjetividade da dor. “Como existe a interferência das emoções, cada pessoa a sente de uma forma. Por isso o tratamento se torna um desafio”, reforça Dra. Paula.

Na maioria das vezes, o especialista em dor prescreve uma medicação (entre analgésicos opioides, analgésicos não opioides e remédios adjuvantes, como relaxantes musculares, antidepressivos, anticonvulsionantes, etc) e indica um procedimento intervencionista — principalmente, em períodos de crise. “Mas isso é só metade do tratamento”, adianta a médica.

A outra parte depende, exclusivamente, da vontade de melhorar de cada um. Na prática, trata-se de seguir as orientações relacionadas à:

  • realização de atividades físicas, especialmente exercícios aeróbicos, de fortalecimento e alongamento;
  • manutenção de uma dieta saudável, evitando os chamados alimentos inflamatórios;
  • medidas em prol do emagrecimento, principalmente, para quem está com sobrepeso ou obesidade;
  • realização de sessões de psicoterapia, para aprender técnicas de enfrentamento dos estressores do dia a dia e não deixar que eles afetem o corpo como um todo; entre outras medidas.

Por isso, em qualquer situação em que sentir dor não seja considerado normal, recomenda-se o tratamento multidisciplinar. O time é composto pelo médico especialista em dor e, muitas vezes, por um fisioterapeuta, um nutricionista, um psicólogo, um educador físico, um terapeuta ocupacional, entre outros profissionais. Uma vez que atuem juntos e contem com o comprometimento do paciente, a redução da dor e a melhora na qualidade de vida poderão ser alcançadas!

Se você se interessa por esse tema, siga o Instagram e Facebook da Dra. Paula Benedetti e confira diversas dicas sobre como evitar a dor!

Material escrito por: Dra. Paula Benedetti

Anestesiologista especialista em Dor. Formada em medicina pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Realizou sua residência médica em anestesiologia na Fundação Universitária de Cardiologia (IcFUC) e no Centro de treinamento SANE/SBA, em Porto Alegre(RS). Seus estudos focados no tratamento da dor foram realizados com os cursos de pós-graduação em dor crônica, no Hospital Israelita Albert Einstein, e no Curso de Intervenção em Dor na Singular- Centro de controle da dor.

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